Dois mil anos de gripe
O alerta global contra a gripe suína, variante do vírus influenza com índice de letalidade importante – algo em torno de 6% das vítimas morre –, resgata um velho debate de biólogos e historiadores: quando, como e por que esse vírus nasceu? O livro A história da humanidade contada pelos vírus, de Stefan Cunha Ujvari, infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, trata do tema. De acordo com o autor, pesquisadores da Pensilvânia estudaram o material genético de amostras do vírus influenza presentes em animais de diferentes continentes e construíram sua “árvore genealógica”. Calcularam o tempo das mutações e encontraram o tempo provável em que viveu o primeiro ancestral de todos os vírus de gripe: há cerca de 2 mil anos. A razão do surgimento do vírus parece estar relacionada à domesticação dos animais, que atingiu proporções até então inéditas no período assinalado. “Possivelmente as criações asiáticas de galinhas e porcos contribuíram para o maior número de vírus circulante entre diferentes espécies”, informa o autor. Da mesma forma, animais domesticados criaram condições para que os vírus atingissem o homem. Se a história se repetir, é provável que o Brasil não escape dessa nova onda global de influenza. O Brasil segue o livro, conheceu em 1889 e 1890 um vírus da gripe surgido no sul da Rússia. Pessoas doentes embarcaram num paquete na cidade de Hamburgo, na Alemanha, e desembarcaram em Salvador. Em pouco tempo, metade da população soteropolitana estava doente. Quando chegou ao Rio, a gripe russa abateu de imediato d. Pedro II. Mais tarde, em 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, a Europa sofreu novamente um ataque viral, desta vez de forma mais intensa. A gripe espanhola se alastrou rapidamente, justamente por conta dos deslocamentos de soldados recrutados para o conflito. Uma embarcação proveniente de Liverpool, com escalas em Recife, Salvador e Rio de Janeiro, foi o provável vetor da gripe espanhola no Brasil. “O planeta ficou gripado”, conta Stefan Cunha Ujvari. “Cerca de 20 milhões de pessoas morreram”. O próprio autor, porém, lembra que o total pode ter sido de 40 milhões, mundo afora, já que na época a notificação não era fácil. Por Liliana Pinheiro.
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